Publicada em 23/10/2020
Pesquisadores
da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, acompanharam durante meses
cerca de 6 mil pacientes infectados com o novo coronavírus e descobriram
que os anticorpos contra o Sars-CoV-2 podem continuar presentes no sangue por
um período de, no mínimo, cinco a sete meses.
Recentemente,
foram confirmados casos de pessoas reinfectadas que, de acordo com o jornal
espanhol El País, apresentaram sintomas mais graves quando ficaram doentes
com covid-19 pela segunda vez - exemplos que suscitam duvidas à comunidade
científica quando se fala em imunidade.
Ao longo dos últimos meses foram divulgados diversos estudos que
mostravam que os anticorpos - proteínas do sistema imunitário que evitam
que o vírus infecte as células do organismo - contra o novo coronavírus iam
diminuindo passados alguns meses após a infecção, principalmente em pessoas que
apresentaram sintomas ligeiros.
As teorias são várias e as dúvidas ainda mais. Mas a questão mantém-se: as
pessoas ficam protegidas após a primeira infeção?
O estudo norte-americano, divulgado na terça-feira (20) na publicação
científica Immunity, e considerado um dos maiores realizados até
agora, por ter analisado cerca de 6 mil pessoas, indica que sim: quem
já esteve infectado com o novo coronavírus pode ter imunidade até, pelo menos,
sete meses.
"O nosso
estudo mostra que é possível gerar uma imunidade duradoura contra esse
vírus", explicou ao jornal espanhol Deepta Bhattacharya, pesquisador da
Universidade do Arizona e coautor do trabalho.
"Nas
infeções moderadas que analisamos, a resposta de anticorpos parece bastante
convencional. Os níveis dessas proteínas sobem primeiro, depois caem e no fim
acabam por estabilizar", continuou. E quanto às reinfecções, o
investigador explica que pode acontecer mas que são casos
"excepcionais".
Quando um
vírus infecta o corpo, o sistema imunológico produz células plasmáticas de
curta duração, que produzem anticorpos para combater imediatamente o agente
patogênico. Esses anticorpos aparecem no sangue, normalmente, até 14 dias após
a infecção e, segundo o autor do estudo, alguns deles "são muito
sofisticados", podendo memorizar um patogênico para sempre e
desenvolver armas moleculares para o destruir, incluindo diferentes tipos de
anticorpos de elevada potência.
Estudo
O estudo norte-americano
resultou de uma campanha de testes que envolveu 30 mil pessoas. Os
investigadores, no entanto, analisaram e acompanharam 5.882 dessas pessoas,
estudando a produção de anticorpos neutralizantes em mais de mil.
A prevalência
de infeções é baixa, contando apenas com cerca de 200 pessoas que transmitiram
o vírus e produziram anticorpos neutralizantes, explicou Bhattacharya.
"Se os
anticorpos fornecem proteção duradoura contra o novo coronavírus tem sido
uma das perguntas mais difíceis de responder, essa investigação não só nos deu
a capacidade de testar com precisão os anticorpos contra a covid-19, mas também
o conhecimento de que a imunidade duradoura é uma realidade".
Ao analisar o
sangue de voluntários que testaram positivo para o novo coronavírus, os
cientistas descobriram que os anticorpos estavam presentes em níveis viáveis
por um período de, pelo menos, cinco a sete meses. Contudo, o máximo que a
equipe conseguiu voltar atrás no tempo, para ver a duração dos anticorpos
foi precisamente sete meses, uma vez que a epidemia chegou relativamente mais
tarde ao Arizona.
"Só
conseguimos testar seis pessoas que foram infectadas há cerca de sete meses,
mas temos muitas outras infectadas há três, quatro, cinco meses", disse o
pesquisador. "Não temos uma bola de cristal para saber quanto tempo
os anticorpos duram, mas com base no que sabemos sobre outros coronavírus,
esperamos que a resposta imunológica seja mantida durante pelo menos sete
meses, e provavelmente por muito mais tempo".
"Sabemos que as pessoas que foram infectadas com o primeiro coronavírus da Sars, que é o mais semelhante ao Sars-CoV-2, ainda conseguem estar imunes 17 anos após a infecção", acrescentou Bhattacharya. "Se o Sars-CoV-2 for parecido com o primeiro, esperamos que os anticorpos durem pelo menos dois anos, e seria improvável qualquer período muito mais curto [do que isso]."
Fonte: Agência Brasil