Publicada em 31/01/2024
O raio-X do acompanhamento de safra da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) anunciou, nesta última semana, que o Rio Grande do Sul já colheu cerca de 30% da área plantada de milho no ciclo 2023/2024. Mas, diferentemente do que ocorre com a soja, a produtividade média está aquém da inicialmente prevista pela Emater-RS/Ascar, de 7.414 quilos por hectare, o que deve impactar na projeção de 6.061.198 toneladas para o cereal.
A situação é vista, pelo menos, nas regiões mais quentes do Estado, que plantaram o grão no cedo e foram atingidas em cheio pelas enxurradas de setembro, de outubro e de novembro do ano passado.
O agrônomo da Emater/RS-Ascar Alencar Rugeri explica que, além de resultar em acúmulo hídrico no solo, a chuva impossibilitou a aplicação da adubação nitrogenada em algumas localidades. Em outras, levou o produto já aplicado embora. A condição ambiental úmida e quente também propiciou a perpetuação da cigarrinha e de bacterioses de vários gêneros. Houve problemas no fornecimento de energia elétrica para o campo e, ainda, a dificuldade de as próprias plantações concluírem a polinização. “O pólen que está no ar é o masculino. O feminino está na espiga. Com chuva, o processo não se completa e resulta em menor quantidade de milho”, detalha Rugeri. No combo de problemas, ele ainda insere a utilização de cultivares inadequadas ao clima.
De acordo com o gerente de pesquisa da Rede Técnica Cooperativa (RTC/CCGL), Geomar Corassa, na região Noroeste do Estado há relatos de perdas superiores a 50% nas plantações de milho. “Depois de dois anos de quebra por estiagem, o excesso de chuva acabou trazendo doenças e penalizando a produtividade, principalmente para o milho semeado no mês de agosto”, explica. Um exemplo está no município de Doutor Maurício Cardoso, onde a produtividade do grão semeado no cedo ficou entre 40 sacos e 80 sacos por hectare.
“São áreas de muita umidade, que foram bastante atacadas pela cigarrinha, por doenças bacterianas e fúngicas, que atingem o colmo da planta, fazendo com que elas caiam”, lamenta o coordenador da Câmara Setorial do Milho da Secretaria da Agricultura (Seapi) e presidente da Comissão de Grãos da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Paulo Vargas.
A colheita tem um dificultador a mais nas lavouras com plantas grandes tombadas. Além de a máquina ter de levantar e retirar as espigas úmidas do chão, o grão perde em qualidade e em quantidade, já que muitos deles ficam no solo. Casos como esse ganharam uma “forcinha” a mais na área de Carazinho, por onde passou a onda de tempestades que atravessou o Estado na segunda semana de janeiro e deixou Porto Alegre praticamente às escuras. “Tivemos relatos de quedas de plantas pelo vento, que veio acompanhado de chuvas que oscilaram entre 53 mm e 90 mm só em uma única noite”, conta Vargas, que também é vice-presidente do Sindicato Rural do município.
Mas, se as perdas foram grandes e a produtividade irregular no primeiro terço da safra de milho, a estimativa é de que a colheita seja cheia nas áreas que semearam o cereal no tarde. Apesar de a cultura provavelmente não alcançar as 6 milhões de toneladas projetadas pela Emater/RS-Ascar nos 817,5 mil hectares cultivados em 2023/2024, a expectativa é de que a produtividade avance para 140 sacos e 150 sacos por hectare. O resultado é esperado, segundo Vargas, nas plantações mais tecnificadas e profissionalizadas.
“Teremos uma produção diferente de uma região para outra. Algumas serão ruins, outras terão safra boa e algumas terão ótimo rendimento. São os que plantaram mais tarde e conseguiram fazer o manejo antecipado, que plantaram duas ou três cultivares”, diz o coordenador da Câmara Setorial do Milho do RS. Também são esperados bons resultados na produção de milho para silagem, que foi cortado antes de cair.
Números atualizados da Farsul indicam que a safra gaúcha de milho, neste ano, ficará em torno de 5 milhões de toneladas, ante as 3,96 milhões de toneladas colhidas em 2023. Se confirmada a projeção, a produção gaúcha do cereal será 28% maior do que a do ano anterior e 32% maior do que as 3 milhões de toneladas consolidadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2022.
METADE SUL
A safra 2023/2024 de milho do Rio Grande do Sul será oficialmente aberta na Metade Sul do Rio Grande do Sul, a exemplo do ano passado. A solenidade ocorrerá em 27 de fevereiro na Agropecuária Canoa Mirim, propriedade localizada em Santa Vitória do Palmar. Em 2023, o evento ocorreu na Fazenda São Francisco, em Jaguarão. A propriedade colheu 204 sacas de milho por hectare em um verão de falta de chuva.
Segundo Vargas, a cerimônia chamará a atenção para o cultivo do grão no sistema sulco camalhão (cultivo estruturado para irrigação via sulcos, estabelecidos entre porções de terras mais altas onde se desenvolvem as plantas, que são permanentemente drenadas). “A Metade Sul é uma fronteira já aberta para o milho, mas os produtores precisam ser treinados tecnicamente para a cultura que é mais sensível e requer cuidado”, destaca Vargas.
MAIORES PRODUTORES DO RS
Cultivo de milho de sequeiro
1-Vacaria
2-Muitos Capões
3-Bom Jesus
4-Esmeralda
5-Caxias do Sul
6-Venâncio Aires
7-Doutor Maurício Cardoso
8-São Francisco de Paula
9-Lagoa Vermelha
10-São Lourenço do Sul
Cultivo de milho irrigado
1-São Luiz Gonzaga
2-Cruz Alta
3-Palmeira das Missões
4-São Miguel das Missões
5-Santa Bárbara do Sul
6-São Borja
7-Santo Antônio das Missões
8-Boa Vista do Cadeado
9-Coronel Bicaco
10-Tupanciretã
Com Radiografia Agropecuária Gaúcha 2023 - Governo do Estado / Correio do Povo
Paulinho Barcelos
Rádio Jornalismo – Rádio Cruz Alta
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