Publicada em 15/01/2024
Quando se fala da olivicultura do Rio Grande do Sul, com azeites extravirgens cada vez mais premiados no mundo, é preciso levar em consideração o tempo em que esta expertise levou para acontecer. O plantio de oliveiras no Estado tem cerca de duas décadas, de erros e acertos agronômicos, descobertas e busca de conhecimento na experiência de países com tradição secular no cultivo e na extração do óleo da azeitona. Por isso, uma marca gaúcha conquistar no ranking mundial dos melhores azeites extravirgens a 9ª colocação, junto a fabricantes da Europa e do Oriente Médio, trata-se de um feito.
Além da Estância das Oliveiras, figuram no ranking
Evoo World mais oito azeites extravirgens brasileiros, sendo sete do Rio Grande
do Sul:
Azeite Prosperato, Azeite Sabiá, Azeite Verdes
Louros, Azeite Capolivo, Azeite Olivas da Lua, Al-Zait e Olivas Costa Doce.
Apenas o Azeite Orfeu, que consta na lista, é fabricado em Minas Gerais.
O criador da Estância das Oliveiras (agraciada com a
posição), de Viamão, Região Metropolitana de Porto Alegre, Lucídio Goelzer,
brinca que este lugar no ranking chega a ser "um absurdo", frente à
juventude do negócio. Filho de agricultores, ex-bancário e agente de Comércio
Exterior, Goelzer comprou uma propriedade em Viamão para criar os filhos
pequenos nos anos 70, com 1,5 hectare. Lá fundou, em 1992, já numa área de 12
hectares, o empreendimento Quinta da Estância, uma fazenda agroecológica com
foco na educação das crianças que em mais de 30 anos recebeu pelo menos 1,3
milhão de visitantes. Entre 2006 e 2007, depois de experimentar os melhores
azeites do mundo, comprados em países como a Espanha, a França e a Inglaterra,
e saber que o plantio de oliveiras no Rio Grande do Sul tinha se iniciado em
Caçapava do Sul, pelas mãos do amigo José Alberto Aued, proprietário da empresa
Olivas do Sul, decidiu ir em busca de informações. "Passei um dia
inteiro atrapalhando o trabalho dele para entender como havia conseguido
plantar, já que as condições de solo e clima no Estado são muito diferentes das
de onde essas árvores sempre foram plantadas", lembrou.
Depois da conversa inicial com Aued, Goelzer foi em busca
de conhecimentos na Embrapa e, segundo ele, "com muito custo",
conseguiu que a empresa de pesquisa colocasse em seu terreno algumas variedades
de oliveiras para acompanhar o desenvolvimento. "Daí por diante,
durante uns 10 anos, até chegar à produção para venda, foram muitas tentativas
e erros", comenta.
A grande descoberta para conseguir produzir foi a correção
da acidez do solo, para que se aproximasse dos níveis de pH dos terrenos de
onde a árvore é originária. "Nos países que produzem olivas há séculos,
o pH do solo está entre 7 e 8. Aqui, é de 4,5 a 5,2", relata. Também o
espaçamento entre as árvores (para entre 7 e 8 metros) precisou ser corrigido,
já que os primeiros plantios (com intervalo de 6 metros) sufocaram o
crescimento. "Chegamos a perder 800 pés", conta.
Nos últimos cinco anos, já contando com 125 hectares de
área entre a Estância das Oliveira e a Quinta da Estância, a marca de Goelzer
começou a ganhar concursos no Brasil e no mundo, de acordo com o produtor,
graças “ao dom” do filho mais novo, André Goelzer, mestre de lagar (a
agroindústria de processamento da azeitona) da estância. "André
consegue tirar o melhor das azeitonas e criar os melhores blends",
elogia.
A Estância das Oliveiras tem 5,3 mil pés plantados, dos
quais cerca de 3 mil estão aptos à colheita, com previsão de início para a segunda
semana de fevereiro. O El Niño causou perdas nos olivais durante o
florescimento das árvores, por isso Goelzer não arrisca uma estimativa de
produção. No ano passado, a propriedade produziu 8,3 mil litros de azeite e tem
como meta para quando todos os pés estiverem frutificando cerca de 17 mil
litros de azeite por ano.
Com Informações do Correio do Povo
Paulinho Barcelos
Rádio Jornalismo – Rádio Cruz Alta
Grupo Pilau de Comunicações