Publicada em 23/01/2023
O primeiro socorro dado às oito pessoas que estavam na embarcação que virou ao tentar fazer a travessia do Rio Uruguai no sábado (21) foi um morador da região. Antônio Sérgio Meller, de 57 anos, que mora em Alecrim, no Norte do RS, a poucos metros da margem do rio, foi o responsável por resgatar com vida Maria Graciela Lopes, de 40 anos, e as crianças Araceli Lopes, de 8 anos, e Emili Vitória Machado, de 5 anos.
“Acho que é instinto de ser humano, ao ver uma
criança se afogando, fazer o que pode. Eu estava ciente que podia salvar eles,
porque conheço bem o rio”, conta
De acordo com as equipes de resgate, a embarcação
transportava cinco adultos e três crianças, sendo dois casais, cada um com um
filho, e a cunhada de um desses casais, com uma sobrinha. As vítimas foram
identificadas como Sinara Bogler Kuhn, de 47 anos; Noeli Ceconi da da Silva, de
39 anos; e Davi Pimentel, de 7 anos, filho de Noeli.
Ainda estão desaparecidos Jorginho Valdemir
Machado, de 44 anos, companheiro de Sinara; e Siderlei Pimentel, companheiro de
Noeli.
RESGATE
Sérgio conta que, como mora há seis anos em uma casa de
dois andares, tem uma visão limpa do local, diferente de seus vizinhos. Assim,
consegue ver sempre que alguém vai à outra margem do rio, onde há uma ilha já
no lado argentino, procurada por turistas da região. Ele diz que viu o grupo
indo até o local e, na volta, percebeu a dificuldade que a embarcação teve ao
tentar atravessar o rio durante a tempestade.
No sábado, boa parte do Rio Grande do Sul teve fortes
chuvas. Sérgio diz que nunca tinha visto o Rio Uruguai tão revolto como neste
dia.
“Quando começou a tormenta, o rio se enfureceu,
veio um tufão, e eu não vi mais eles. Me apavorei, porque nunca tinha visto o
rio tão enfurecido. Peguei um binóculos que eu tenho e comecei a fazer uma
varredura, aí avistei uma criança se debatendo e um outro grupo em um bolo.
Larguei tudo, saí correndo e peguei meu barco”, diz
Sérgio.
O comerciante da região conta que, na primeira investida,
conseguiu resgatar Maria Graciela e as crianças Emili e Araceli com vida. As
duas crianças estavam de colete salva-vidas, e Sérgio diz que uma delas
“sustentava milagrosamente” a mulher adulta fora d’água. Em seguida, ele diz
que viu Sinara, Noeli e Davi já sem vida e conseguiu trazê-los à superfície.
Davi também estava de colete salva-vidas.
“Os outros dois eu já não vi. Ainda tentei
voltar, mas já não tinha como ficar no meio da tormenta. Se eu tivesse demorado
mais cinco minutos, não sei o que aconteceria. Fico aliviado de poder ter
tirado essas crianças”, conta Sérgio.
REGIÃO PERIGOSA
Sérgio conta que, apesar do cenário de pavor, decidiu usar
seu barco para ajudar no salvamento.
“Foi um filme de terror, cenário caótico. Mas o
meu barco era maior, mais firme, eu tinha essa vantagem para invadir a
tormenta. Eles estavam em um barco de madeira pequeno, de no máximo cinco
metros”, conta.
Ele diz que a região, que costuma ter travessia de barcos
entre os dois países, também já é conhecida pelos acidentes:
“Pouco tempo atrás, um senhor foi revistar uma
rede, caiu na água e desapareceu. E eu socorri, faz pouco tempo também, o pai
do Siderlei [que está desaparecido]. Ele caiu na água e eu consegui correr e
tirar ele de lá”, conta.
Com Informações da site GZH e G1
Paulinho Barcelos
Rádio Jornalismo – Rádio Cruz Alta
Grupo Pilau de Comunicações