Publicada em 05/11/2020
A Fiocruz
está investindo no desenvolvimento de uma vacina inteiramente nacional contra a
covid-19 paralelamente à produção em massa, prevista para 2021, do imunizante
da Universidade de Oxford. São três projetos distintos, baseados em tecnologias
diferentes, que estão em fase inicial de testagem em animais. Dois deles podem
estar concluídos para registro já em 2022; o terceiro, somente no ano seguinte.
O acordo firmado entre a Fiocruz e a farmacêutica britânica AstraZeneca
prevê a transferência de tecnologia da vacina de Oxford, com início da produção
em janeiro do ano que vem. Ou seja, o Brasil terá acesso à tecnologia e
autonomia para continuar produzindo o imunizante. O órgão de pesquisa prevê
fabricar 210 milhões de doses em 2021. Mesmo assim, os cientistas acreditam ser
importante desenvolver novas tecnologias. Eventualmente, elas podem levar a
resultados diversos, mais eficientes e com menos efeitos colaterais.
"O mundo tem sete bilhões de habitantes, quanto mais vacinas
disponíveis tivermos, em diferentes plataformas (estratégias), melhor",
explicou a vice-diretora de qualidade de Bio-Manguinhos/Fiocruz, Rosana Cuber.
"Essas vacinas não serão introduzidas agora, ainda estamos na fase de
estudos pré-clínicos, em animais, mas são uma aposta de médio prazo."
O projeto do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos de
Bio-Manguinhos busca desenvolver uma vacina sintética. Ela seria mais rápida e
mais barata do que as tradicionais, além de dispensar instalações de biossegurança
de nível 3 nas primeiras etapas do processo. A vacina sintética tem como base
moléculas produzidas por síntese química. Elas contêm pequenas partículas de
proteínas do vírus Sars-Cov-2, capazes de induzir a produção de anticorpos.
Outro
projeto, também desenvolvido por Bio-Manguinhos, prevê o desenvolvimento de uma
plataforma de subunidade (que utiliza apenas uma proteína específica para
estimular a resposta imune). O objetivo é testar diferentes construções da
proteína S. Ela é a principal proteína para a ligação do Sars-Cov-2 nas células
dos pacientes. O terceiro projeto em fase pré-clínica é desenvolvido pelo Grupo
de Imunologia de Doenças Virais da Fiocruz de Minas Gerais. Utiliza o vírus da
influenza modificado geneticamente para gerar uma resposta imunológica contra o
novo coronavírus.
"Vivemos
uma situação inédita, nunca vista por nossa geração; mas a boa notícia é que
estamos mais preparados do que jamais estivemos", diz o vice-presidente de
produção e inovação em saúde da Fiocruz, Marco Krieger. "Na emergência da
aids, levamos três anos para identificar que se tratava de um retrovírus e
sequenciá-lo; agora, fizemos isso em dois dias. Temos hoje muitas alternativas
tecnológicas e estamos usando-as para avançar no nosso conhecimento das vacinas,
é importante termos diferentes esforços sendo feitos, em graus de maturidade
distintos."
Fonte: BRASIL AO MINUTO