Publicada em 13/07/2021
As importações de soja da China cresceram em junho. O volume foi
11,6% maior do que o de maio e somou 10,72 milhões de toneladas, de acordo com
dados da Administração Geral das Alfândegas reportados nesta terça-feira (13).
Este foi o terceiro maior montante mensal da história e, de acordo com
analistas e consultores ouvidos pela Reuters Internacional, trata-se de uma
'retomada' do ritmo das compras do gigante asiático.
O gráfico abaixo mostra o comportamento das importações chinesas mensalmente. Na linha preta, o desempenho de 2021 mostrando a força da demanda neste ano:
Ainda segundo os especialistas, os chineses seguem buscando
ampliar suas compras de forma a alcançarem um abastecimento adequado que possa
atender ao seu rebanho de suínos que continua se recuperando. Dessa forma, as
importações chinesas de soja somaram 48,96 milhões de toneladas no primeiro
semestre de 2021, 8,7% a mais do que no mesmo intervalo do ano passado.
Nesta segunda imagem, as compras chinesas no acumulado do ano. As imagens são da especialista internacional em commodities, Karen Braun, com dados da Administração Geral de Alfândegas da China.
"Os rebanhos cresceram e a demanda por farelo de soja
aumentou", disse a analista da consultoria agrícola Shangai JC
Intelligence Co Ltd, Rosa Wang. "E as processadoras de soja também
aumentaram suas compras preocupadas com o fornecimento mais a diante",
complementa Wang.
Parte da soja que
continua chegando à China ainda é de origem braisleira, uma vez que as
esmagadoras chinesas fizeram grandes compras por aqui no início do ano,
aproveitando os preços mais baixos e garantindo melhores margens de esmagamento.
Além disso, o atraso na colheita também provocou o atraso do embarque de
alguns cargos, que estão chegando somente agora aos portos chineses.
Daqui em diante, no entanto, a demanda é um ponto de atenção importante para o mercado, já que tem se mostrado tímida diante de margens de esmagamento que seguem negativas no país. Ainda de acordo com a consultoria JC Intelligence, as esmagadoras na provínica de Shandong, a maior esmagadora de soja do norte da China, por exemplo, tem registrado um prejuízo de cerca de US$ 30,63 por tonelada da oleaginosa processada.
E boa parte deste movimento está atrelada ao atual momento da
suinocultura. Os preços do suíno já acumulam uma baixa de mais de 60% de
janeiro a junho diante da preocupação dos suinocultores com novos surtos de
Peste Suína Africana e outras zoonoses e frente aos custos elevados para
controlar doenças como estas, além de temerem perder mais animais como no
momento do pico da epidemia.
Com esse quadro, os
produtores chineses tem abatido animais mais jovens, "forçado" uma
comercialização mais intensa e promovido também uma pressão expressiva sobre os
preços da carne suína no país.
Assim, a expectativa é
de que as importações de soja em julho sejam um pouco mais contidas, como
explicam os especialistas, principalmente de soja brasileira. A tendência é que
a partir de setembro novas compras sejam feitas nos Estados Unidos, com o
produto norte-americano mostrando melhor competitividade.
"Há ainda bastante
soja do Brasil a ser embarcada para a China ainda em julho, agosto e setembro.
Depois disso eles viram para os EUA. Quando olhamos para os prêmios agora no
Brasil, para setembro, estão entre US$ 1,35 e US$ 1,40 (acima dos preços
praticados em Chicago) e no Golfo está bem mais baixo", explica Ginaldo
Sousa, diretor do Grupo Labhoro. Ainda no Golfo, os preços para agosto são
de 78 a 85 cents, e para outubro, os vendedores pedem 75 centavos de dólar
sobre a CBOT, enquanto no Brasil os valores para outubro já variam enbtre 141 e
155 cents.
E essa diferença tende a
aumentar a partir de outubro, quando a soja da nova safra começa a chegar ao
mercado nos EUA, pressionando ainda mais os prêmios e, naturalmente, atraindo
mais a demanda, também como afirma Sousa.
Todavia, o diretor da
Labhoro acredita que a China já está substancialmente abastecida e que os
próximos meses não deverão ser de compras muito volumosas. "Mas certamente
as importações de soja chinesas irão ultrapassar as 105 milhões de toneladas
neste ano. A China já comprou muita soja", diz. Então, "eles vão sim
voltar ao mercado, mas de forma ainda bem mais tímida".
No início de 2021, a
bússola chinesa muda de direção novamente e a China deve voltar a comprar a
oleaginosa brasileira, e esta deve ter ainda melhor competitividade com uma
safra estimada em mais de 144 milhões de toneladas.
INFLUÊNCIA SOBRE OS PREÇOS
O ritmo mais contido de
compras da China já tem segurado também o avanço das cotações da soja na Bolsa
de Chicago, ainda como analisa Ginaldo de Sousa.
"Com o clima que
temos tido nos Estados Unidos, era para termos um Chicago mais alto, com o
contrato novembro/21, que hoje orbita entr US$ 13,50 e US$ 13,60, já nos US$
14,00 ou perto disso", afirma o diretor da Labhoro. "Mas o que falta
é a demanda"
Fonte: Notícias Agrícolas