Publicada em 24/03/2021
O diretor do
Instituto Butantan, Dimas Covas, disse nesta quarta-feira (24) que o Instituto
concluiu o envio dos documentos exigidos pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) na solicitação
para realizar um estudo clínico do soro anticoronavírus, desenvolvido
pelo instituto desde o ano passado a partir do plasma de cavalos.
"Nós já
tivemos duas rodadas de exigências da Anvisa, ontem à noite nós completamos
essa segunda rodada. Então, neste momento, não temos nenhum documento pendente.
E aguardamos a aprovação da Anvisa", afirmou Dimas Covas.
A expectativa do
Instituto é a de conseguir a liberação até sexta-feira (26). O instituto tem 3
mil frascos prontos para iniciar os testes.
A autorização
permitirá que o soro seja aplicado em pessoas contaminadas pela doença e,
depois, que se descubra qual a dose necessária para obter os efeitos desejados.
O pedido à Anvisa foi feito no início de
março. Entretanto, semanas após a solicitação, a Agência alegou
falta de informação e cobrou mais dados do Instituto.
O objetivo do
soro é amenizar os sintomas da doença nas pessoas já infectadas. Ele não é
capaz de curar nem de prevenir a doença. O estudo é coordenado pelos médicos
Esper Kallás e José Medina, da Universidade de São Paulo (USP).
"O soro é uma
vacina instantânea. É um concentrado de anticorpos, neste caso produzindo em
cavalos, que atua diretamente no vírus. Ele é para logo que o indivíduo é
infectado e começa apresentar sintomas, ser usado. Isso impede que a doença
progrida".
Ainda de acordo
com o diretor, o soro já está sendo produzindo em rotina no Instituto e aguarda
liberação para entrar em linha de produção.
Processo
O vírus inativo
não provoca danos aos cavalos nem se multiplica no organismo, mas estimula a
produção de anticorpos.
Os técnicos
retiram o plasma do cavalo, que faz parte do sangue do animal, e levam para a
sede do Butantan, na Zona Oeste de São Paulo. Os anticorpos são separados do
plasma e se transformam em um soro anti-Covid. Os cavalos, além de ajudarem a
produzir o soro, participaram dos testes.
Uma vez
autorizados, segundo o diretor, os testes serão feitos inicialmente com
pacientes transplantados de rim, no Hospital do Rim, e em pacientes
comorbidades no Hospital das Clínicas.
No início de
março, Dimas Covas disse que os testes feitos em animais apontaram que o soro
é seguro e efetivo.
"Os animais
que foram tratados tiveram seu pulmão protegido, ou seja, não desenvolveram a
forma fatal da infecção pelo coronavírus, mostrando que os resultados de
estudos em animais são extremamente promissores e esperamos que a mesma
efetividade seja demonstrada agora nesses estudos clínicos que poderão ser
autorizados."
Em dezembro de
2020, o diretor do instituto chegou a dizer que o material
estava pronto e aguardava liberação da Anvisa.
Entretanto, na
ocasião, a Agência negou ter recebido a solicitação.
Estudo
O processo de
fabricação do soro foi iniciado em uma fazenda do Butantan com os animais. A
última fase de testes ocorreu em janeiro, quando os pesquisadores passaram a
testar o vírus ativo da Covid.
"O soro foi
inteiramente produzido no Butantan. O vírus foi isolado, inativado, e
finalmente levado a imunizar os animais. O Butantan tem uma fazenda com 650
hectares e lá nós mantemos uma tropa de 800 cavalos", disse Dimas Covas em
coletiva de imprensa no dia 5 de março.
"Alguns
animais foram submetidos a esse vírus e na sequência produziram anticorpos.
Esse plasma desses animais foi coletado e aí processado nas nossas instalações,
dando origem ao produto."
O Butantan já
tinha usado o vírus inativado da doença para o estudo em cavalos.
O vírus foi
isolado em um laboratório de segurança máxima, no caso o da USP, que tem essa
certificação, e injetado em roedores.
Os estudiosos
observaram quanto tempo levava para o animal produzir os anticorpos e como eles
agiam para barrar o coronavírus.
Os testes para produzir o soro anti-Covid começaram em 2020. Seguiram o mesmo caminho da fabricação de outros soros, como o antiofídico, para picadas de cobras.
Fonte: G1