Publicada em 22/12/2020
A nova variante do coronavírus descoberta no Reino Unido, a
B.1.1.7, parece se espalhar mais rapidamente, mas “não está fora de controle”,
disse nesta segunda-feira a Organização Mundial da Saúde (OMS), pedindo a continuação
da aplicação de medidas sanitárias que já demonstram eficácia.
—
Registramos um R0 [taxa de transmissão do coronavírus] muito superior a 1,5 em
diferentes momentos desta pandemia, e a controlamos. Essa situação, nesse
sentido, não está fora de controle — disse o chefe de emergências da OMS,
Michael Ryan, em entrevista.
Ryan informou que “embora o vírus tenha se tornado um pouco mais
eficiente em termos de propagação, ele pode ser interrompido”.
—
As medidas atuais são boas. Devemos continuar fazendo o que fizemos até agora —
disse o médico. — Podemos ter que fazer isso com um pouco mais de intensidade e
durante mais tempo para ter certeza de que podemos controlar esse vírus.
A
OMS disse que espera ter mais detalhes sobre o possível impacto da nova cepa do
coronavírus em breve. Não há evidências de que a variante do vírus aumente a
gravidade da doença, embora seja mais transmissível, disseram autoridades.
A
OMS também afirmou que a emergência de variantes é normal da evolução de uma
pandemia, e a descoberta mostra que novas ferramentas para rastrear o vírus
estão funcionando.
—
Ser capaz de rastrear um vírus tão de perto, tão cuidadosamente,
cientificamente e em tempo real é um desenvolvimento realmente positivo para a
saúde pública global, e os países que fazem esse tipo de vigilância devem ser
elogiados.
Confira,
a seguir, algumas perguntas e respostas sobre a nova variante do coronavírus.
O que é a mutação ocorrida no coronavírus?
Apesar
do apelo sensacionalista que a palavra “mutação” adquiriu com histórias de
ficção científica, ela descreve um fenômeno biológico corriqueiro e consiste em
pequenos “erros de cópia” do material genético (DNA ou RNA) que ocorrem de uma
geração para outra de um organismo.
A mutação ocorrida no coronavírus agora é preocupante?
Uma
variante do vírus com 17 mutações, designada pela sigla “B.1.1.7” aumentou em
prevalência no Reino Unido nas quatro últimas semanas, e cientistas levantaram
um alerta, temendo que ela tenha ganhado espaço por ser mais infecciosa do que
outras.
Essa variante do vírus é mais perigosa?
Há
pouca informação científica disponível ainda, mas como oito das mutações do
B.1.1.7 ocorrem na proteína “espícula”, que o Sars-CoV-2 usa para invadir
células humanas, as alterações podem ter tornado o vírus mais capaz de
proliferar.
Essa capacidade de proliferação já é comprovada?
Ainda
não há experimentos de laboratório que confirmem essa infectividade, e por
enquanto não se pode descartar que a prevalência do B.1.1.7 tenha aumentado via
“deriva genética”. Por exemplo, pode ser que esse vírus tenha tido a sorte de
entrar numa população humana que tomou poucas medidas de isolamento.
É preciso mesmo ampliar medidas de distanciamento?
O
Reino Unido implementou novas medidas de “lockdown”, mas tinha motivos de sobra
para isso, mesmo sem a presença do B.1.1.7, porque a epidemia saiu do controle
na segunda onda. O bloqueio de alguns países europeus a voos britânicos é uma
medida mais extrema.
A mutação vai prejudicar a efetividade de vacinas?
Existe
um estudo sugerindo que uma das mutações do B.1.1.7 o ajude a escapar da
detecção pelo sistema imune de pessoas teoricamente já resistentes ao
coronavírus. Cientistas, porém, acreditam que vacinas devem gerar imunidade
suficientemente abrangente para contornar isso.
Essa é a única variedade mutante preocupante do coronavírus?
Não.
Uma variedade que cresceu na África do Sul também está na mira dos cientistas.
Uma outra que se propagou bastante na Espanha durante o verão também levantou
alerta, mas cientistas depois concluíram que sua proliferação era explicável
pelo comportamento humano.
Como a nova variedade do vírus é detectada?
Em
princípio, é preciso sequenciar o material genético do B.1.1.7 para
identificá-lo, o que é caro. Um teste diagnóstico de PCR que detecta três
segmentos do RNA do vírus, porém, pode ser útil para o monitoramento dessa
variante, porque um dos segmentos perdeu sensibilidade ao teste.
Fonte: Extra