Publicada em 01/12/2020
O teste simplifica o método de coleta e análise. É possível até
solicitar o kit de coleta para fazer o exame em casa. O próprio paciente
recolhe a saliva em um tubo de ensaio no sistema de autocoleta. Os resultados
são enviados por e-mail. Indolor e não invasivo, o teste dispensa o uso de
swabs, aquela espécie de cotonete que recolhe amostras de nasofaringe. Isso
também significa menor risco de infecção, pois não há necessidade da atuação de
um profissional de saúde. Tão preciso e sensível quanto o RT-PCR, referência na
detecção de casos ativos do novo coronavírus, o teste pela saliva é mais
barato. A coleta presencial custa R$ 90 enquanto o PCR oscila entre R$ 350 e R$
400.
A
pesquisadora Maria Rita Passos-Bueno explica que a redução de custos se deve ao
fato de o teste da saliva não precisar extrair o ácido nucleico das amostras.
Isso requer reagentes importados e caros. Esse ácido, também conhecido como
RNA, é um composto “primo” do DNA. Resumindo: os processos são mais simples no
teste da saliva.
Um
dos grandes desafios dos pesquisadores foi padronizar o teste, ou seja, criar
soluções químicas que mantivessem o coronavírus estável, sem sofrer a ação das
inúmeras enzimas presentes na saliva. Foram realizados mais de mil testes em 25
funcionários do Instituto de Química e 30 pessoas relacionadas ao Instituto de
Biociências. “Com o teste RT-Lamp, a população poderá contar com uma opção mais
acessível, segura e rápida de testagem”, explica a coordenadora do projeto.
O
teste da saliva e o PCR são diferentes dos chamados “testes rápidos”, aqueles
que pretendem detectar anticorpos contra o novo coronavírus em cerca de 20
minutos e são normalmente vendidos nas farmácias. Eles não servem para
diagnosticar a covid-19 nem para definir casos assintomáticos. Eles identificam
apenas se a pessoa possui anticorpos sem definir em que momento ela foi
infectada. Além disso, nem todos os testes rápidos foram avaliados
tecnicamente, o que pode contribuir para o aumento dos chamados falso negativos
ou positivos.
Os
pesquisadores alertam que as cargas do novo coronavírus são maiores do 2º ao 7º
dia após o contágio, o que aumenta o risco de transmissão. Isso reforça a
necessidade de realização de testes logo após a possível contaminação, assim
que os primeiros sintomas forem percebidos.
O projeto de pesquisa do teste da saliva conta com o apoio da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo (Fapesp) e da JBS, empresa
do ramo alimentício que destinou R$ 50 milhões para 38 pesquisas científicas de
enfrentamento ao coronavírus. Os pesquisadores agora buscam mais investimentos
para ampliar a capacidade de testagem. O número de atendimentos por dia, por
exemplo, pode aumentar.
Além
disso, o objetivo é oferecer o teste em localidades com pouca infraestrutura
para coleta e análise, incluindo os laboratórios de referência das
universidades. “No momento atual é necessário um teste direto ao consumidor, de
acesso fácil, custo acessível e que permita a testagem a fim de identificar
pessoas infectadas. Qualquer teste deve apresentar uma boa sensibilidade para
detectar altos níveis de cargas virais, que conferem maior risco de contágio.
Esta estratégia é fundamental para detecção de assintomáticos e diminuição do
risco de contágio”, opina a pesquisadora.
Fonte: Isto é Dinheiro