Publicada em 09/10/2020
Em meio à pandemia
da covid-19, o auxílio emergencial contribuiu para a queda temporária da
pobreza no Brasil. Segundo o estudo Covid, Classes Econômicas e o Caminho do
Meio: Crônica da Crise até Agosto de 2020, divulgado hoje (9) pelo Centro de
Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV Social), 15 milhões de
brasileiros saíram da linha da pobreza até agosto de 2020, uma queda de 23,7%.
A comparação é feita com os dados fechados de 2019.
De acordo com
a definição usada pela FGV, a pobreza é caracterizada pela renda domiciliar per
capita de até meio salário mínimo (R$ 522,50).
Segundo o
coordenador da pesquisa, Marcelo Neri, apesar de o país ainda registrar 50
milhões de pobres após esta queda, este é o nível mais baixo de toda a série
estatística.
“De maneira
geral, a gente observou um boom social inédito, mesmo comparando com períodos
pós-estabilização, que foram períodos de boom social. Em toda a série
estatística a pobreza nunca esteve num nível tão baixo, são 50 milhões de
brasileiros. A queda foi realmente inédita, de acordo com as séries
estatísticas”.
A redução de
pobreza chegou a 30,4% na Região Nordeste e a 27,5% no Norte do país. No Sul, a
redução foi de 13,9%; no Sudeste de 14,2% e no Centro-Oeste a queda na pobreza
chegou a 21,7%.
Segundo a FGV
Social, essas regiões têm maiores parcelas do público-alvo do Auxílio Emergencial.
“O Brasil, nos nove meses do auxílio emergencial, até o final do ano, pretende
gastar R$ 322 bilhões, cerca de nove meses são nove anos de Bolsa Família, uma
injeção de recursos bastante substantivo”, destaca o pesquisador.
Mercado de
trabalho
Por outro
lado, Neri disse que as camadas com renda acima de dois salários mínimos per
capita perderam 4,8 milhões de pessoas na pandemia e os dados do mercado de
trabalho demonstram forte retração.
“Houve uma
queda de renda de 20%. O índice de Gini teve um aumento muito forte, que é o
índice de desigualdade. A renda do trabalho da metade mais pobre caiu 28%.
Então guarda um certo paradoxo na pesquisa. As rendas de todas as fontes
tiveram um aumento espetacular, principalmente na base da distribuição,
enquanto a renda do trabalho, que deveria ser a principal renda das pessoas,
teve uma queda igualmente espetacular, especialmente também na base da
distribuição. O que explica esse paradoxo é a atuação do auxílio emergencial,
que atingiu no seu pico com 67 milhões de brasileiros”.
Com a queda no
topo e a subida na base das classes de renda, as camadas intermediárias tiveram
um aumento de 21,4 milhões de pessoas, o que equivale à quase metade da
população da Argentina. Neri lembra que a diminuição na pobreza é temporária e
tende a ser totalmente revertida após o fim do auxílio emergencial.
“O boom social
ocorrido em plena pandemia é surpreendente, mas enseja uma preocupação, porque
a sua principal causa, que é o auxílio emergencial, generoso, que foi
concedido, ele cai à metade agora em outubro, e depois é totalmente extinto em
31 dezembro. Então, a nossa estimativa é que esses 15 milhões que saíram da
pobreza vão voltar à velha pobreza de maneira relativamente rápida. Isso
equivale a cerca de meia Venezuela em termos populacionais”, disse o
pesquisador.
A pesquisa
aponta também que ainda não foram definidos novos programas sociais para
contornar a crise atual, bem como há “cicatrizes trabalhistas de natureza mais
permanente abertas pela crise”.
Além disso, a questão sanitária preocupa, já que o segmento mais pobre, público alvo do auxílio emergencial, tem taxas mais baixas de isolamento social, o que indica o impedimento das pessoas mais pobres em conseguirem exercer “ações mais ajustadas às necessidades impostas pela pandemia”.
Fonte: Agência Brasil